sexta-feira, 23 de outubro de 2009

"Gregório de Matos"

Gregório de Matos (1633 – 1696)



Gregório de Matos é o maior poeta barroco brasileiro, sua obra permaneceu inédita por muito tempo, suas obras são ricas em sátiras, além de retratar a Bahia com bastante irreverência, o autor não foi indiferente à paixão humana e religiosa, à natureza e reflexão.

- A lírica religiosa: explora temas como o amor a Deus, o arrependimento, o pecado, apresenta referências bíblicas através de uma linguagem culta, cheia de figuras de linguagem. Veja que no exemplo a seguir o poeta baseia-se numa passagem do evangelho de S. Lucas, quando Jesus Cristo narra a parábola da ovelha perdida e conclui dizendo que “há grande alegria nos céus quando um pecador se arrepende”:



A JESUS CRISTO NOSSO SENHOR
Pequei, Senhor; mas não porque hei pecado,
da vossa alta clemência me despido;
porque, quanto mais tenho delinqüido,
vos tenho a perdoar mais empenhado.


Se basta a vos irar tanto pecado,
a abrandar-vos sobeja um só gemido:
que a mesma culpa, que vos há ofendido
vos tem para o perdão lisonjeado.

Se uma ovelha perdida, e já cobrada
glória tal e prazer tão repentino
vos deu, como afirmais na sacra história,
eu sou Senhor, a ovelha desgarrada,
cobrai-a; e não queirais, pastor divino,
perder na vossa ovelha, a vossa glória.
(Gregório de Matos)

- A lírica amorosa: é marcada pela dualidade amorosa entre carne/espírito, ocasionando um sentimento de culpa no plano espiritual.
- A lírica filosófica: os textos fazem referência à desordem do mundo e às desilusões do homem perante a realidade.

Em virtude de suas sátiras, Gregório de Matos ficou conhecido como “O boca do Inferno”, pois o poeta não economizou palavrões nem críticas em sua linguagem, que além disso era enriquecida com termos indígenas e africanos.


Eis um exemplo dos muitos “retratos” que Gregório de Matos compôs:


Soneto

A cada canto um grande conselheiro,
Que nos quer governar cabana, e vinha,
Não sabem governar sua cozinha,
E podem governar o mundo inteiro.


Em cada porta um freqüentado olheiro,
Que a vida do vizinho, e da vizinha
Pesquisa. Escuta, espreita, e esquadrinha,
Para levar à Praça, e ao Terreiro

Muitos mulatos desavergonhados,
Trazidos pelos pés os homens nobres,
Posta nas palmas toda picardia.
Estupendas usuras nos mercados,
Todos, os que não furtam, muito pobres,
E eis aqui a cidade da Bahia.

Nesse texto o poeta expõe os personagens que circulavam pela cidade de Salvador - conhecida como Bahia- desde as mais altas autoridades até os mais pobres escravos.

Obras de Gregório de Matos

CULTISMO –
A poesia sacra de Gregório de Matos às vezes é simples pretexto para exercício do cultismo. Veja o jogo de palavras no poema a seguir.


O todo sem parte não é todo,

A parte sem o todo não é parte,

Mas se a parte o faz todo, sendo parte,

Não se diga que é parte, sendo todo


Em todo sacramento está Deus todo,

E todo assiste inteiro em qualquer parte,

E feito em partes todo em toda parte,

Em qualquer parte sempre fica todo.


O braço de Jesus não seja parte,

Pois que feito Jesus em partes todo,

Assiste cada parte em sua parte.


Não se sabendo parte deste todo,

Um braço que lhe acharam, sendo parte,

Nos disse as partes todas deste todo.


OBRAS DE GREGÓRIO DE MATOS MANUSCRITOS

Enquanto viveu, seus poemas circulavam de mão em mão, de forma manuscrita, ou de boca em boca, no aspecto oral.


OBRAS PUBLICADAS – As obras de Gregório de Matos somente foram publicadas no século XX, entre 1923 e 1933, pela Academia Brasileira de Letras, em seis volumes:

I. Sacra Contém todos os poemas religiosos.
II. Lírica Contém todos os poemas lírico-amorosos.
III. Graciosa Contém poemas que exploram o humor.
IV e V. Satírica Contém todos os poemas que exploram a sátira.
VI. Última Contém poemas misturados.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

" Padre Antonio Vieira "

Contexto Histórico


"Nem português, nem brasileiro; Vieira era inteiramente jesuíta," já disse um autor. O pe. Antônio Vieira nasceu a 6 de fevereiro de 1608, em uma casa pobre na Rua do Cônego, em Lisboa, tendo sido um dos mais influentes homens de seu século em termos de política portuguesa. Seu pai servira a marinha e fora, por dois anos, escrivão da Inquisição portuguesa.

Seu pai se mudou em 1609 para o Brasil, onde assumiu um cargo de escrivão em Salvador; em 1614 trouxe a família para o Brasil quando Antônio tinha 6 anos de idade. Antônio estudou na única escola de Salvador da época: a dos jesuítas. Consta que não era um bom aluno no começo, mas depois tornou-se brilhante. Juntou-se a Companhia de Jesus como noviço em maio de 1623. Existem muitas lendas sobre Vieira, incluindo que na juventude sua genialidade lhe fora concedida por Nossa Senhora e que uma vez um anjo lhe indicou o caminho de volta à escola quando estava perdido. Quando em 1624 os holandeses invadiram a Bahia, Vieira se refugiou no interior, onde começaram seus impulsos missionários.

Um ano depois tomou os votos de castidade, pobreza e obediência, abandonando o noviciado. Não partiu para a vida missionária, no entanto. Estudou muito além da teologia: lógica, física, metafísica, matemática e economia. Em 1634, após ter sido professor de retórica em Olinda, se ordenou. Em 1638 já ensinava Teologia. Apesar de antes pensar-se que Vieira defendia a posse do Nordeste por Portugal, hoje sabe-se que ele preferia que Portugal o entregasse a Holanda apesar de seu famoso sermão em favor da posse (Portugal gastava 10x mais com o NE do que ganhava e a Holanda era um inimigo militar muito superior na época). Em 1641 começou a carreira com diplomacia na conturbada Portugal do século XVII.

Quando eclodiu uma disputa entre dominicanos (membros da inquisição) e jesuítas (catequistas), Vieira, defensor dos judeus, cai em desgraça, enfraquecido pela derrota de sua posição quanto à questão NE. Em 1644 ele deixa Portugal como embaixador (seu pai, que antes vivia pobre, é nomeado pensionista real) para negociar com a Holanda a devolução do Nordeste, com grau de sucesso complexo numa ocasião da história de Portugal que quase acaba com Portugal como parte da Holanda.

O povo de Portugal não gostava das pregações de Vieira em favor dos judeus e após estes tempos conturbados da política portuguesa ele acaba voltando ao Brasil, onze anos após voltar para a Europa. Fica no NE algum tempo e volta para a Europa com a morte de D. João IV, tornando-se confessor da regente D. Luísa. Quando chega a questão do sucessor de D. João, Vieira fica no lado perdedor e é desterrado para o Porto, enquanto os jesuítas têm seus privilégios removidos. A Inquisição chega a prendê-lo na época após não ter sucesso em censurá-lo.

Novamente no lado mais fraco na época da deposição de D. Afonso IV, vai ao Vaticano após meses sem pregar. Encontra o papa à beira da morte e fica em Roma. Quando em 1671 nova expulsão dos judeus é feita, Vieira parte na defesa deles. Em 1675 ele é absolvido totalmente pela Inquisição. No começo de 1681 volta ao Brasil e volta a pregar. Suas obras começam a ser publicadas na Europa, onde são elogiadas até pela Inquisição. Já muito velho e doente, tem que espalhar circulares sobre sua saúde para manter em dia sua longa correspondência. Em 1694 já não escreve do próprio punho. Em 10 de junho começa a agonia quando perde a voz e acabam-se seus discursos. Em 17 de junho morre.

Vieira tem uma obra complexa que exprime suas opiniões políticas, sendo não propriamente um escritor mas um orador. Além de seus Sermões existe o Clavis Prophetarum, seu livro de profecias que nunca acabou. Entre os sermões existem dois que são os mais célebres: o Sermão da Quinta Dominga da Quaresma e o Sermão da Sexagésima. Vieira também tem uma classificação complexa quanto a nacionalidade: passou mais da metade de sua vida no Brasil, o próprio povo, quando ele caía em desgraça, chamava-o de "Judas do Brasil"; mas foi uma importante figura para Portugal na política interna e externa, para não falar na cultura.

Obra

Deixou obra complexa que exprime suas opiniões políticas, sendo não propriamente um escritor e sim um orador. Além dos Sermões redigiu o Clavis Prophetarum, livro de profecias que nunca concluiu. Entre os inúmeros sermões, alguns dos mais célebres: o "Sermão da Quinta Dominga da Quaresma", o "Sermão da Sexagésima", o "Sermão pelo Bom Sucesso das Armas de Portugal contra as de Holanda", o "Sermão do Bom Ladrão","Sermão de Santo António aos Peixes" entre outros.

Primeira página de
"Historia do Futuro",
de uma edição de
1718.

" Barroco no Brasil "

BARROCO NO BRASIL

O marco inicial do Barroco brasileiro é o poema épico, Prosopopéia de Bento Teixeira (1601). Há dúvidas quanto à origem do poeta, estudos literários recentes afirmam que ele nasceu em Portugal, porém viveu grande parte de sua vida no Brasil, em Pernambuco. PROSOPOPÉIA é um poema épico com 94 estrofes, que exalta Jorge de Albuquerque Coelho, terceiro donatário da capitania de Pernambuco. Bento Teixeira imita Camões de maneira infeliz, sua obra é cansativa e tem apenas valor histórico.


CONTEXTO HISTÓRICO DO BARROCO BRASILEIRO

O Barroco domina durante todo o século XVII e metade do século XVIII, até 1768. Na literatura desenvolveu-se na Bahia e nas artes plásticas (esculturas) em Minas gerais Com as obras do Aleijadinho (Antônio Francisco Lisboa), e na pintura do Mestre Ataíde.

BARROCO BRASILEIRO

Movimento artístico e filosófico que surge com o conflito entre a Reforma Protestante e a Contra Reforma. Seu objetivo era propagar a religião através de uma arte de impacto, sinuosa, enfeitada ao extremo.Arte altamente contraditória. A origem da palavra barroco é obscura, hipóteses têm sido consideradas mais aceitáveis: barroco era o adjetivo que designava certas pérolas de superfície irregular e preço inferior.De qualquer forma há um valor depreciativo na palavra, que durante muito tempo foi usada para indicar uma arte e uma literatura, bizarra, extravagante.

CARACTERÍSTICAS GERAIS DA LITERATURA BARROCA

O homem dividido entre o desejo de aproveitar a vida e o de garantir um lugar no céu. Conflito existencial gerado pelo dilema do homem dividido entre o prazer pagão e a fé religiosa. Antropocentrismo x Teocentrismo (homem X Deus, carne X espírito). Detalhismo e rebuscamento- a extravagância e o exagero nos detalhes. Contradição- é a arte do contraditório, onde é comum a idéia de opostos: bem X mal, pecado X perdão, homem X Deus. Linguagem rebuscada e trabalhada ao extremo, usando muitos recursos estilísticos e figuras de linguagem e sintaxe, hipérboles, metáforas, antíteses e paradoxos, para melhor expressarem a comparação entre o prazer passageiro da vida e a vida eterna. Regido por duas filosofias: Cultismo e Conceptismo. Cultismo é o jogo de palavras, o uso culto da língua, predominando inversões sintáticas. Conceptismo são os jogos de raciocínio e de retórica que visavam melhor explicar o conflito dos opostos.


PRINCIPAIS REPRESENTANTES DO BARROCO BRASILEIRO

-Na poesia

- Gregório de Matos
- Bento Teixeira
- Botelho de Oliveira
- Frei Itaparica

- Na Prosa

- Pe. Antônio Vieira
- Sebastião da Rocha Pita
- Nuno Marques Pereira.